O primeiro dia da segunda edição do Summer Breeze, no último dia 26 de abril, foi marcado por muitas apresentações de artistas consagrados, bandas de eras clássicas do Metal e lendas em carreira solo. O dia inaugural deste segundo ano, no Memoral da América Latina, apresentou as 20 primeiras bandas do lineup em quatro palcos – os secundários Sun e Waves e os principais Ice e Hot -, com espaço variado para o Hard Rock, o Heavy Metal, Power Metal e afins.
Para este primeiro dia, a equipe do site deu foco para as apresentações dos palcos Ice Stage e Hot Stage, começando pela volta do Black Stone Cherry ao Brasil e encerrando com a primeira apresentação de Gene Simmons no país com sua banda e em carreira solo. Anteriormente, os dois palcos já tinha recebido, alternadamente, as apresentações de Nestor, Flotsam & Jetsam e de Edu Falaschi e banda.
Confira abaixo como foram os shows cobertos nos palcos Ice e Sun, com mais detalhes do melhor de cada banda:
Black Stone Cherry
Um dos shows mais esperados do último dia do Summer Breeze Brasil 2024 acabou virando um verdadeiro teste de paciência tanto para a banda, quanto para o público. Os norte-americanos do Black Stone Cherry, conhecidos pelo seu Hard Rock cheio de groove e energia do sul dos Estados Unidos, enfrentaram uma série de dificuldades técnicas que quase comprometeram a experiência geral do show.
Desde o início, já dava pra perceber que algo estava fora do lugar. O som no palco principal estava visivelmente abaixo do padrão do festival, com graves absurdamente altos que abafavam boa parte dos vocais e guitarras. Foi possível somar a isso uma série de problemas aparentemente simples, mas que causaram um baita atraso: cabos com mau contato, correias soltas e ajustes que pareciam não terminar nunca. Enquanto os minutos passavam, a galera ali na grade ficava cada vez mais inquieta. No entanto, curiosamente, poucos arredaram pé.
Muito disso se deve ao carisma da banda, especialmente do vocalista e guitarrista Chris Robertson, que mesmo em meio ao caos, não deixou o bom humor de lado. A simpatia dos demais integrantes e a expectativa pelo show que tanto se esperava seguraram o público firme no lugar. E felizmente, depois do sufoco inicial, as coisas começaram a engrenar para a continuidade do show e a boa condução de Ben Wells (guitarra e backing vocal), John Fred Young (bateria) e Steve Jewell Jr. (baixo e backing vocal).
Com os ajustes feitos (ainda que longe do ideal), o Black Stone Cherry mostrou a que veio. O repertório poderoso incluiu clássicos como “White Trash Millionaire”, “Again” e “Cheaper to Drink Alone”, que incendiaram a plateia e mostraram que, sim, valia a pena ter esperado. Chris e companhia estavam visivelmente animados em voltar ao Brasil — essa foi apenas a segunda passagem deles por aqui, oito anos após a vinda ao Maximus Festival, e a empolgação era evidente em cada riff e sorriso trocado com o público.
As músicas mais novas, do álbum “Screamin’ at the Sky” (2023) também marcaram presença e foram muito bem recebidas. Faixas como “Nervous” e “When the Pain Comes” mostraram que a banda continua em ótima forma, mesmo enfrentando os fantasmas da técnica naquele dia.
No fim das contas, o show do Black Stone Cherry acabou por virar uma daquelas apresentações que a gente lembra justamente pelos imprevistos — e por como a banda, com muito talento e presença de palco, conseguiu transformar um início desastroso em um momento memorável do festival.
Setlist:
- Me and Mary Jane
- Burnin’
- Again
- Nervous
- In My Blood
- Like I Roll
- Cheaper to Drink Alone
- When the Pain Comes
- Yeah Man
- Blind Man
- Blame It on the Boom Boom
Bis: - White Trash Millionaire
- Lonely Train
Exodus
Se alguém ainda duvida do poder do Exodus ao vivo, o primeiro dia do Summer Breeze Brasil 2024 serviu como prova definitiva: os pioneiros do Thrash Metal da Bay Area simplesmente destruíram tudo. Em meio a um line-up de respeito, a banda norte-americana entregou uma das performances mais intensas do festival — e olha que o nível estava altíssimo desde cedo. Esta foi uma apresentação que fez parte da turnê “Persona Non Grata”, apesar de boa parte das músicas celebrarem o disco de estreia da banda.
Logo nos primeiros acordes de “Bonded by Blood”, o clima mudou. A plateia se entregou por completo ao som rápido, pesado e agressivo, num êxtase coletivo de mosh pits, headbangings sincronizados e gritos de pura catarse metálica. Foi aquele tipo de apresentação que você sente no corpo, dos tímpanos ao pescoço — e mesmo quem já estava cansado da maratona de bandas anteriores parecia ganhar um novo “up” no quesito energia.
O setlist, com foco em faixas do disco “Bonded By Blood” – em meio a celebração dos 40 anos de seu lançamento – e com espaço para faixas do restante de seu repertório, foi uma verdadeira aula de violência sonora, com hinos como “Blacklist”, “A Lesson in Violence” e a sempre destruidora “The Toxic Waltz”, que fez muita gente se perguntar se o Exodus não merecia, na verdade, ter encerrado o festival no último dia, tamanho foi o impacto. Ficou claro que a posição no cronograma não fez justiça à magnitude da performance.
Na formação, o arsenal sonoro ficou a cargo das guitarras afiadas de Lee Altus e Gary Holt. O segundo, uma lenda viva do Thrash Metal, parecia tocar com uma fúria jovial que desafiava o tempo e, além disso, não deixou suas nuances de ter participado dos últimos anos do Slayer passarem batido, ao tocar um pequeno trecho de “Raining Blood” dentro da faixa “The Toxic Waltz”. A bateria de Tom Hunting era um soco no peito a cada virada, e o vocal de Steve “Zetro” Souza manteve o espírito oitentista vivo, com sua voz cortante e presença de palco cativante.
Um detalhe técnico passou batido por muita gente: o baixo de Jack Gibson estava praticamente inaudível. Mas, honestamente, com o nível de destruição sonora que vinha das guitarras e da bateria, isso pouco afetou a potência geral da apresentação. A energia era tanta que esse tipo de falha técnica virou quase um rodapé em meio ao caos glorioso do show.
O Exodus não apenas manteve a tradição do thrash metal vivo — eles a celebraram em alto e bom som, arrancando aplausos, gritos e pescoços doloridos. Um daqueles momentos em que se percebe por que o gênero sobrevive há décadas: quando bem executado, é impossível ficar indiferente.
Setlist:
- Bonded by Blood
- Blood In, Blood Out
- And Then There Were None
- Piranha
- Brain Dead
- Deathamphetamine
- Prescribing Horror
- The Beatings Will Continue (Until Morale Improves)
- A Lesson in Violence
- Blacklist
- Fabulous Disaster
- The Toxic Waltz (com trecho de “Raining Blood”, do Slayer)
- Strike of the Beast
Sebatian Bach
Um dos nomes mais esperados do segundo dia de Summer Breeze Brasil 2024 foi, sem dúvida, o eterno frontman do Skid Row, Sebastian Bach, que retornou ao Brasil após oito anos de sua trinca de apresentações em São Paulo, Belo Horizonte e Manaus.
Aos 56 anos e com a cabeleira invejável ainda intacta (e balançando como nos velhos tempos), o vocalista chegou com tudo no palco, esbanjando empolgação e começando o show com uma das faixas de seu próximo álbum solo, “Child Within The Man”, previsto para maio deste ano. A escolhida foi “What Do I Got to Lose?”, que mostrou uma boa dose de energia e revelou um pouco do que vem por aí nesse novo trabalho cheio de participações especiais — e, ao que tudo indica, com potencial pra surpreender o mercado.
Porém, se no estúdio Sebastian ainda consegue entregar vocais firmes e bem produzidos, ao vivo a história é um pouco diferente. Já faz algum tempo que ele vem demonstrando dificuldade para alcançar os agudos que marcaram sua carreira nos anos 80 e 90. Em alguns momentos, os falsetes soaram secos e o timbre um tanto anasalado, lembrando o drama vocal vivido por Axl Rose nos últimos tempos. Ainda assim, Bach não deixou a peteca cair e compensou naquilo que sempre teve de sobra: presença de palco, atitude e carisma.
Como era de se esperar, o setlist foi praticamente dominado pelos clássicos da era Skid Row, e isso agradou em cheio o público, que queria mesmo era cantar junto aquelas músicas que atravessaram gerações. “18 and Life”, “Slave to the Grind”, “Monkey Business”, “Youth Gone Wild” e, claro, a sempre emocionante “I Remember You” marcaram presença e arrancaram coros apaixonados.
No meio disso, ainda rolou espaço pra três músicas solo (com direito até a trecho a capella), um cover surpreendente do PainmuseuM, e uma tentativa de “Tom Sawyer” do Rush — que, infelizmente, não funcionou tão bem quanto se esperava. A complexidade da música e os vocais exigentes acabaram pesando, e o resultado foi um pouco abaixo do restante da apresentação.
Apesar das limitações vocais, Sebastian Bach conseguiu segurar a onda graças à sua entrega total no palco. Ele interagiu com o público o tempo todo, distribuiu sorrisos, fez piadas e mostrou que ainda leva o Rock and Roll no sangue. Não é mais aquele jovem vocalista que explodia os falantes com notas altíssimas, mas é um veterano que entende seu papel, sabe conduzir um show e, acima de tudo, respeita quem está ali para vê-lo. E isso, por si só, já vale muito.
Setlist:
- What Do I Got To Lose?
- Big Guns (Skid Row)
- Sweet Little Sister (Skid Row)
- Here I Am (Skid Row)
- 18 and Life (Skid Row)
- Piece of Me (Skid Row)
- Everybody Bleeds
- Slave to the Grind (Skid Row)
- American Metalhead (cover de Painmuseum)
- Monkey Business (Skid Row)
- The Threat (Skid Row)
- Rattlesnake Shake (Skid Row)
- Wasted Time (Skid Row, a capella) / By Your Side (a capella)
- I Remember You (Skid Row)
- Tom Sawyer (cover de Rush)
- Children of the Damned (cover de Iron Maiden, a capella)
- Youth Gone Wild (Skid Row)
Gene Simmons Band
O Kiss pode ter dado adeus aos palcos, mas Gene Simmons está longe de encerrar sua jornada no rock. E a prova disso foi o show inédito da Gene Simmons Band no Summer Breeze Brasil 2024 — um nome simples, é verdade, mas que atraiu uma multidão curiosa pra ver o eterno Demon fora da maquiagem, em um formato mais cru, porém não menos poderoso.
Embora não seja a primeira vez que Simmons se apresenta fora do Kiss, foi a estreia desse novo projeto em terras brasileiras, e logo num festival de peso. A proposta? Tocar clássicos da banda que o consagrou, com uma pegada mais pesada e uma formação afiada. E deu certo. Com um time formado por músicos experientes como Brent Woods (que, inclusive, já havia feito bonito mais cedo no palco com Sebastian Bach), Jason Walker nas guitarras e Brian Tichy arrebentando na bateria, o som fluiu com naturalidade, bem longe de parecer um projeto “cover de luxo”.
Aliás, se tem algo que chamou atenção foi a sonoridade: mais densa, mais pesada e com uma certa cara de hard rock moderno — mas sem perder a essência do Kiss. Simmons, mesmo aos 74 anos, ainda segura o baixo com firmeza e se diverte nos vocais. Mas o grande trunfo da apresentação foi Jason Walker, que assumiu os vocais em vários dos clássicos originalmente cantados por Paul Stanley. Com um timbre marcante e boa presença de palco, ele mandou ver nos agudos sem escorregar, ganhando o respeito da galera logo nas primeiras músicas.
O setlist foi um prato cheio para fãs nostálgicos. Hits como “Shout It Out Loud”, “Detroit Rock City”, “Cold Gin”, “Calling Dr. Love”, “Lick It Up”, “Love Gun”, “I Was Made for Lovin’ You” (com participação especial da brasileira Miranda Kassin nos vocais) e, claro, “Rock and Roll All Nite”, incendiaram o público que, mesmo no fim de um dia longo, cantava a plenos pulmões. Entre uma música e outra, Simmons soltava piadas, interagia com a plateia e fazia discursos sobre sua relação com os fãs — no bom estilo Gene “larger than life”.
E teve surpresa também: dois covers inesperados deram uma sacudida no set, com versões enérgicas de “Communication Breakdown” (Led Zeppelin) e “Ace of Spades” (Motörhead), que agradaram tanto os mais old school quanto os headbangers mais fiéis.
No fim das contas, o show serviu pra mostrar que Gene Simmons ainda tem lenha pra queimar — e que, mesmo fora do Kiss, ele continua sendo um showman nato. Pode ter sido um novo capítulo na carreira solo, mas o espírito era o mesmo: alto, barulhento e com muito amor pelo rock. Quem achava que era só uma “despedida estendida” teve que engolir o baixo pesado e dar o braço a torcer — Gene ainda é relevante, e quando sobe ao palco, a festa é garantida.
Setlist:
- Deuce (Kiss)
- Shout It Out Loud (Kiss)
- War Machine (Kiss)
- Detroit Rock City (Kiss)
- Cold Gin (Kiss)
- Calling Dr. Love (Kiss)
- I Love It Loud (Kiss)
- Parasite (Kiss)
- Communication Breakdown (cover de Led Zeppelin)
- Lick it Up (Kiss)
- Are You Ready (Gene Simmons solo)
- Ace of Spades (cover de Motörhead)
- Love Gun (Kiss)
- 100,000 Years (Kiss)
- Let Me Go, Rock ‘n’ Roll (Kiss)
- I Was Made for Lovin’ You (Kiss, com participação de Miranda Kassin)
- Rock and Roll All Nite (Kiss)
Agradecimentos especiais para a Agência Taga e o festival pela oportunidade de cobertura dessa edição!