No último dia da edição de 2024 do Summer Breeze Brasil, o forte calor foi destaque junto com o poderio das últimas 19 boas bandas a se apresentar na segunda edição do evento! No Memoral da América Latina, o foco foi de música pesada, com uma variação que levou ao Metal Extremo, ao Metalcore, ao Thrash Metal, Heavy Metal e outros gêneros e subgêneros em todos os quatro palcos do local.
A equipe do After do Caos deu foco às apresentações que aconteceram do meio da tarde ao final do evento, com foco nos palcos Ice Stage e Hot Stage, com o poderio sonoro de Overkill, Avatar, Carcass, Killswitch engage, Anthrax e o gran finale do Mercyful Fate. Confira abaixo como foram as apresentações:
Overkill
No domingo chegamos já para rolar o segundo show no Ice Stage. O Overkill, de volta a São Paulo após cinco anos, assumiu o comando do palco Ice e não demorou nada para incendiar o público presente.
Desde os primeiros acordes, a banda mostrou a que veio, arrancando gritos e levantando os punhos dos fãs que lotavam a área em frente ao palco. Era evidente que ali, naquele momento, todos estavam conectados pela mesma energia explosiva do thrash metal clássico.
Um dos grandes destaques da apresentação foi a presença inesperada — e muito bem-vinda — de David Ellefson, lendário ex-baixista do Megadeth. Ele ocupou temporariamente o posto de D.D. Verni, membro original do Overkill, que ficou de fora deste show. Ellefson, com sua presença firme e entrosamento impecável, mostrou respeito à história da banda e não deixou a intensidade cair em nenhum segundo, provando mais uma vez por que é um nome tão respeitado na cena.
A banda abriu os trabalhos com a potente “Scorched”, faixa do álbum mais recente, já colocando todo mundo em movimento. Em seguida, emendou com a agressiva “Bring Me The Night”, levando o público ao delírio. Quando chegou a vez da clássica “Hello From The Gutter”, foi impossível não notar a vibração coletiva: todos cantando em coro, numa sintonia que só uma banda com décadas de estrada consegue provocar. A conexão entre público e banda estava evidente — era suor, entrega e paixão por todos os lados.
Apesar do calor intenso que tomava conta do lugar, nem os músicos nem a plateia demonstraram cansaço. Pelo contrário: a cada música, a movimentação aumentava, e o carismático vocalista Bobby “Blitz” Ellsworth, com sua voz marcante e postura de veterano, comandava tudo com autoridade. Ele corria de um lado ao outro do palco, interagia com os fãs e mantinha o ritmo acelerado do show.
“Wicked Place” apareceu no setlist como um momento estratégico para reduzir um pouco o ritmo frenético, permitindo que todos recuperassem o fôlego antes da próxima pancada sonora. Já “Horrorscope”, com seu instrumental carregado de técnica e um solo de guitarra arrebatador, trouxe uma atmosfera mais sombria, mas igualmente poderosa.
À medida que o show se aproximava do fim, o Overkill preparou um encerramento de peso com uma sequência matadora: “Elimination” fez o chão tremer, “Rotten to The Core” reafirmou o legado da banda, e o cover irreverente de “Fuck You”, do Subhumans, encerrou a apresentação com aquela mistura perfeita de provocação, rebeldia e diversão que define o espírito do Metal.
Foi um show coeso, visceral e eletrizante, que combinou técnica, atitude e uma performance enérgica do começo ao fim. O Overkill provou mais uma vez que, mesmo com décadas de estrada, ainda tem muito combustível para queimar — e o público respondeu à altura, com entrega total.
Setlist:
- Scorched
- Bring Me the Night
- Electric Rattlesnake
- Hello From The Gutter
- Wicked Place
- Coma
- Horrorscope
- Long Time Dyin’
- Solo de bateria (com as intros de ‘Painkiller’ e ‘Run to the Hills’)
- Solo de baixo & bateria (com a intro de ‘Peace Sells’)
- The Surgeon
- Ironbound
- Elimination
- Rotten to the Core
- Fuck You
Carcass
No meio da maratona de shows do festival, o retorno ao Ice Stage reservava um momento especial: era hora do Carcass, lenda britânica do death/grind, mostrar por que ainda é referência no metal extremo. E eles não decepcionaram. Com um repertório equilibrado entre peso, técnica e melodia, a banda fez um show direto, afiado e barulhento — do jeito que a galera gosta.
Logo de cara, “Buried Dreams” abriu os trabalhos com força total, seguida pela pancada “Kelly’s Meat Emporium”, do álbum mais recente, e a clássica “Incarnated Solvent Abuse”, que soaram como verdadeiros hinos de destruição. Mesmo com o clima castigando, dava pra ver que os fãs estavam com sede de som — mesmo que em ritmo mais contido por causa do calor escaldante.
Em vários momentos do show, o público parecia estar se poupando, mas sem deixar de aplaudir e reagir a cada final de música. A dobradinha “Black Star / Keep On Rotting in the Free World” foi o ponto de virada, trazendo de volta o pique da plateia e destacando-se como um dos momentos mais marcantes da apresentação. Outro destaque foi “Corporal Jigsore Quandary”, que mostrou o domínio da bateria, comandando a dinâmica do show com precisão.
O calor, no entanto, cobrou seu preço. O vocalista e baixista Jeff Walker sentiu os efeitos da temperatura e precisou tocar boa parte do show sentado próximo à bateria. Em alguns trechos, deixou de cantar, tentando aliviar a sensação térmica com água na nuca e até uma bolsa de gelo na cabeça. Apesar disso, o frontman não deixou a peteca cair e seguiu entregando o que dava — inclusive se desculpando com o público por não estar 100%.
Nada disso, porém, comprometeu o saldo final. O Carcass segurou firme até o fim, encerrando a apresentação com “Ruptured in Purulence / Heartwork” e “Tools of the Trade”, mostrando que mesmo em condições extremas, a experiência e o peso falam mais alto. Foi um show denso, técnico e honesto e que, apesar das dificuldades, reafirmou o respeito que a banda carrega no underground e além dele.
Setlist:
- Buried Dreams
- Kelly’s Meat Emporium
- Incarnated Solvent Abuse
- Under The Scalpel Blade
- This Mortal Coil
- Tomorrow Belongs to Nobody / Death Certificate
- Dance of Ixtab (Psychopomp & Circumstance March No. 1 in B)
- Black Star / Keep On Rotting in the Free World
- The Scythe’s Remorseless Swing
- 316L Grade Surgical Steel
- Corporal Jigsore Quandary
- Ruptured in Purulence / Heartwork
- Tools of The Trade
Killswitch Engage
Um dos momentos mais aguardados do festival finalmente chegou quando o Killswitch Engage subiu ao palco Hot Stage. A temperatura já estava um pouco mais tranquila — o que ajudou (e muito) o público a curtir cada segundo da apresentação. E logo de cara, sem enrolação, a banda abriu com a clássica “My Curse”, que transformou o local em um verdadeiro mar de vozes. Uma abertura forte, certeira e carregada de emoção, que fez todo mundo cantar junto e se entregar ao som.
Na sequência veio “Arms of Sorrow”, com uma pegada mais sentimental, mas não menos intensa. A plateia respondeu à altura, com coros que vinham de todos os cantos. Já com “Signal of Fire”, a coisa começou a pegar fogo de verdade: os primeiros mosh pits surgiram e o solo de guitarra nessa faixa foi daqueles de arrepiar.
A energia no palco era contagiante. A banda inteira se movimentava o tempo todo, com destaque para o carismático vocalista Jesse Leach e o sempre irreverente guitarrista Adam Dutkiewicz, que não paravam um segundo — pulando, correndo, fazendo piadas e chamando o público pra participar. Palmas, rodas, coros… tudo fazia parte do pacote. Essa interação constante é uma das marcas registradas do Killswitch Engage, e nesse show ela se destacou ainda mais, aproximando os fãs da banda de uma forma muito genuína.
“Hate By Design” manteve o clima lá no alto, com um refrão que todo mundo sabia de cor. Na sequência, “Rose of Sharyn” trouxe um dos momentos mais intensos do dia: além de ser um clássico absoluto da banda, foi nela que rolou o maior pit do festival até então — uma explosão de energia e entrega coletiva. E se alguém ainda estava tentando se recuperar, veio “Strength of The Mind” pra garantir que ninguém ficasse parado.
Já no final, o combo emocional de “The End of The Heartache” e “My Last Serenade” mostrou o lado mais melódico e emotivo do Killswitch. Era visível o quanto essas músicas mexem com o público — muitos cantando com olhos marejados, acompanhando cada verso como se fosse um hino pessoal. E pra fechar com chave de ouro, a banda mandou “Holy Diver”, clássico de Dio, que virou quase um ritual nos shows deles — e aqui não foi diferente, com todo mundo cantando junto como se fosse a última música da vida.
Foi um show memorável, intenso, com equilíbrio perfeito entre peso e emoção. O Killswitch Engage provou mais uma vez por que é uma das bandas mais queridas do metal moderno, e deixou sua marca em mais uma passagem triunfal pelo Brasil — um dos melhores momentos do Summer Breeze, sem dúvida.
Setlist:
- My Curse
- Rise Inside
- This Fire
- Reckoning
- The Arms of Sorrow
- In Due Time
- A Bid Farewell
- Beyond The Flames
- The Signal Fire
- Unleashed
- Hate by Design
- The Crownless King
- Rose of Sharyn
- Strength of The Mind
- This Is Absolution
- The End of Heartache
- My Last Serenade
- Holy Diver
Anthrax
Já chegando na reta final do festival, o Anthrax subiu ao palco do Ice Stage com a missão de manter a energia lá em cima — e não só cumpriu, como elevou tudo a um novo nível. A banda começou com a clássica “Among the Living”, que funcionou como uma granada lançada no meio da multidão. Bastaram os primeiros riffs para o público enlouquecer e embarcar de vez na apresentação.
A sequência com “Caught in a Mosh” e “Madhouse” veio sem dó, empilhando hit atrás de hit e transformando a plateia num verdadeiro caldeirão de mosh pits, rodas e coros ensurdecedores. Era difícil encontrar alguém que não estivesse pulando ou cantando junto — a vibe era de celebração total.
Depois de “Efilnikufesin (N.F.L.)”, veio a primeira surpresa da noite: a inclusão de “Keep It in the Family” no setlist, arrancando reações empolgadas dos fãs mais antigos. Mas o que realmente deixou todo mundo em êxtase foi a entrada de Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, para tocar “I Am the Law” ao lado da banda. Andreas já havia colaborado com o Anthrax no passado, substituindo Scott Ian em algumas ocasiões, e sua participação trouxe aquele tempero especial ao show. Ver dois ícones do metal dividindo o palco em solo brasileiro foi um daqueles momentos que ficam na memória.
Entre sinalizadores acesos, rodas de mosh em ebulição e fãs entregues ao som, o Anthrax seguiu despejando energia com “In the End” — uma homenagem emocionante a Ronnie James Dio — e com as empolgantes “Medusa” e “Got the Time”, que deixaram claro como a banda continua sendo uma das mais divertidas e enérgicas de se ver ao vivo. O vocalista Joey Belladonna comandava o palco com maestria, enquanto Dan Lilker assumia o baixo com competência, substituindo Frank Bello sem deixar faltar nada.
Pra fechar a destruição, vieram “A.I.R.” e o hino absoluto “Indians”, com Scott Ian comandando a plateia e puxando o tradicional grito de “war dance”, que ecoou pelo festival como um verdadeiro chamado à batalha. Foi o encerramento perfeito para um show poderoso, cheio de história e peso, deixando o público com a sensação de ter presenciado um dos pontos mais altos do Summer Breeze.
Anthrax mostrou que, mesmo com décadas de estrada, ainda sabe como incendiar um palco — e fez isso com carisma, som pesado e um público totalmente entregue.
Setlist:
- Among The Living
- Caught in a Mosh
- Madhouse
- Metal Thrashing Mad
- Efilnikufesin (N.F.L.)
- Keep It in The Family
- Antisocial
- I Am the Law
- In The End
- Medusa
- Got The Time
- A.I.R.
- Indians
Mercyful Fate
O momento mais aguardado por boa parte do público finalmente chegou: Mercyful Fate, um dos nomes mais cultuados do heavy metal mundial, voltou ao Brasil após longos 26 anos de ausência. A ansiedade era imensa — e os dinamarqueses corresponderam com uma performance arrebatadora.
Liderado pelo inconfundível King Diamond, o grupo trouxe uma formação afiada com os experientes Hank Shermann e Mike Wead nas guitarras, a baixista Becky Baldwin segurando as linhas graves com precisão cirúrgica e Bjarne T. Holm ditando o ritmo com segurança total na bateria. Com essa equipe, o palco do Summer Breeze virou cenário de um verdadeiro ritual profano.
A abertura com “The Oath” já foi um aviso: aquilo não seria apenas um show, e sim uma cerimônia de outro mundo. O clima soturno tomou conta do ambiente e foi intensificado com “A Corpse Without Soul”, que seguiu em uma pegada igualmente macabra.
A inédita “The Jackal of Salzburg” chegou como uma parede sonora avassaladora — ainda mais densa ao vivo do que nas gravações divulgadas anteriormente. Com uma atmosfera pesada e temática carregada, a faixa surpreendeu até os mais céticos. Logo em seguida, a trinca “Curse of the Pharaohs”, “A Dangerous Meeting” e “Doomed by the Living Dead” colocou fogo no festival, com a plateia participando ativamente e vibrando a cada instante. Os vocais teatrais de King Diamond estavam afiadíssimos, mostrando que o tempo não abalou em nada sua entrega vocal.
Durante todo o set, o destaque foi também o som encorpado do baixo de Becky, que preencheu os espaços com força e personalidade. Vários momentos foram marcados pelos olhares atentos do público, visivelmente impressionado com a presença de palco da musicista.
Entre uma música e outra, King fazia questão de agradecer os fãs brasileiros, reforçando o carinho pelo país e garantindo que não pretende demorar tanto para retornar. A conexão entre banda e público foi evidente, com troca de energia constante. E quando se fala em conexão, não dá pra não mencionar a dupla Shermann e Wead, que despejaram riffs cortantes e solos inspirados, mostrando sintonia total.
O momento mais introspectivo veio com “Melissa”, carregada de emoção e ideal para mostrar a versatilidade vocal do frontman. Mas logo o clima sombrio deu lugar à agressividade de “Black Funeral” e “Evil”, que elevaram o volume da multidão a níveis absurdos — em alguns trechos, era tanta gente cantando que mal se ouvia o instrumental, o que arrancou até risos do próprio King.
“Come to the Sabbath” manteve o clima incendiário, sendo celebrada como um hino por milhares de vozes. E para fechar com grandiosidade, a banda escolheu a épica “Satan’s Fall” — com seus mais de dez minutos de duração, ela foi a conclusão perfeita para essa verdadeira missa negra. Muita gente ficou visivelmente emocionada, sem acreditar que aquele espetáculo tinha mesmo chegado ao fim.
A sensação pós-show foi de missão cumprida. Quem estava ali sabia que tinha presenciado algo grandioso, talvez único. O Mercyful Fate não apenas fez uma apresentação impecável — entregou um dos momentos mais marcantes da história recente dos palcos brasileiros. Um encerramento digno da segunda edição do Summer Breeze Brasil, que agora deixa um gostinho de “quero mais” para a próxima temporada.
Setlist:
- The Oath
- A Corpse Without Soul
- The Jackal of Salzburg
- Curse of the Pharaohs
- A Dangerous Meeting
- Doomed by The Living Dead
- Melissa
- Black Funeral
- Evil
- Come to The Sabbath
- Satan’s Fall
E assim terminou mais uma edição do festival que vem se tornando cada vez mais querido no Brasil, o Summer Breeze chegou para mostrar que é possível sim fazer um festival de valor no país e principalmente em São Paulo.
Agradecimentos especiais para a Agência Taga e o festival pela oportunidade de cobertura dessa edição, nos vemos em 2025!